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John
McLaughlin
Com
sessenta muito bem vividos anos de idade, John McLaughlin figura
entre as jóias mais raras da guitarra elétrica.
E da acústica também.
Sua carreira se iniciou oficialmente em 1969 com Extrapolations,
seu primeiro álbum solo. Daí em diante uma verdadeira
'legião de mestres' passou pela vida de McLaughlin. Entre
alguns de seus parceiros, para citar poucos, temos Miles Davis,
Zakir Hussain, Stanley Clarke, Paco de Lucia, Jack Bruce, Ron
Carter e por aí vai . . . mantendo o nível.
O toque de McLaughlin é mágico. Dono de uma técnica
impecável e um raro bom gosto, John é um mestre
da improvisação, desfilando com a mesma fluência
frases e escalas flamencas, pentatônicas, jazzísticas
e indianas numa velocidade a la Coltrane e em divisões
rítmicas desconcertantes. Tudo com a espiritualidade de
um monge.
Mahavishnu
John McLaughlin & Rex Bogue
No
final de 1969 Miles Davis, orgulhoso de seu jovem (e virtuoso)
guitarrista John McLaughlin, o encoraja a deixar sua banda
e formar a sua própria.
Nesse meio tempo, John havia concluído um ano desde
sua iniciação ao estudo do hinduísmo
e foi, por seu mestre, batizado de Mahavishnu.
John recrutou Billy Cobham (bateria), Rick Laird (baixo),
Jan Hammer (teclados) e Jerry Goodman (violino) e em agosto
de 1971 "The Inner Mounting Flame" debutou a
incrível Mahavishnu Orchestra.
Um
ano depois, John estava com a Mahavishnu em Los Angeles
e após o concerto um sujeito estranho chamado Rex
Bogue se aproximou de John e lhe disse que era um grande
fã. Era também luthier e lhe mostrou uma
de suas guitarras. O guitarrista experimentou o instrumento
e ficou realmente impressionado.
John vinha procurando por uma guitarra que lhe agradasse
e nada parecia suprir suas necessidades. Naquele momento
ele vinha usando uma Gibson Double-Neck que havia sido
feita sob encomenda, mas para John ela tinha muitas imperfeições.
Ele precisava de algo mais.
Assim, tudo no momento certo. John pediu a Rex que lhe
construisse uma double-neck.
Nascia uma das mais belas guitarras da história,
o Duplo Arco-Iris ou 'The Double Rainbow'.
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'The
Double Rainbow'
Como
o próprio Bogue contou a Leonard Ferris
da Guitar Player em maio de 1974, 'construir uma
guitarra de dois braços leva no mínimo
o dobro de tempo e sacrifício do que levaria
uma comum' .
O luthier passou exatamente 1 ano de sua vida
dedicado, exclusivamente, a construção
da guitarra.
O corpo de 3 peças foi esculpido a mão
em maple, de acordo com Bogue 'o mais belo e envelhecido
maple que eu pude encontrar'. O conceito básico
para a construção do instrumento
foi a de espelhar os dois braços, construindo
o instrumento como duas guitarras idênticas,
invertidas.
Para a montagem dos braços laminados de
'nove' peças, foram utilizados maple e
rosewood brasileiro, enquanto a escala, a pedido
de McLaughlin, foi feita em ébano Gaboon.
Dois tensores foram colocados no braço
de doze cordas, um no braço de seis.
Para o posicionamento dos trastes Rex Bogue pediu
ajuda a um amigo que escreveu um programa de computador
para a U.C.L.A. (Universidade da Califórnia),
e assim calculou com exatidão a posição
de cada traste, de acordo com sua expessura e
tamanho. Uma serra especial foi construída
para cortar os trastes.
A
elaborada incrustação em abalone
colorido nas escala é provavelmente o efeito
visual mais impressionante da guitarra. São
várias folhas e flores que se espalham
pela escala, marcando as posições.
Bogue revelou que apesar de ambos ele e John terem
discutido o design, John deu-lhe carta branca
quanto a parte artística.
Assim as incrustações foram basicamente
influenciadas pelos trabalhos em abalone dos antigos
banjos S.S.Stewart e pela arte noveau do pintor
francês Alphonse Mucha. Para Rex a 'trepadeira'
ao longo das escalas representam a 'árvore
da vida' do músico, no progresso de conquistar
seus ideais. Considerações filosofais
como esta, levaram McLaughlin a desejar as palavras
'Guru Alo' posicionadas na base de cada escala.
Elas significam : aquele que conduz das trevas
para a luz.
Deixando
a parte artística para o luthier, McLaughlin
se preocupou mais com outros aspectos. Ele queria
que as escalas alcançassem o D ao invés
do C# e também pediu por humbuckers Gibson
para a captação. Bogue re-enrolou
cada captador, adicionando divisor de bobinas,
faseamento inter-bobinas, e faseamento quadruplo
de bobinas ajustável. Ele usou algumas
partes Gibson, outras foram especialmente fabricadas.
As saídas dos captadores foram endereçadas
para um rede de seletores e depois para um circuito-integrado
híbrido de pré-amplificação.
Rex emoldurou os captadores com rosewood e depois
'colou' os captadores ao fundo da guitarra. Como
ele mesmo explicou - ´desta forma eles não
são ajustáveis. Mas tudo bem, assim
eu sei que nenhum outro técnico vai fuçar
neles. Minhas guitarras vem com garantia vitalícia.
Se alguma coisa der errado com elas, eu vou até
o músico e faço o conserto gratuitamente,
pro resto da minha vida.'
A guitarra tem vários controles de volume,
grave, agudo, uma chave power-bypass, entre outras
coisas. A chave bypass adiciona uma variável
de 20db ao sinal de saída.
O pré-amp embutido oferece uma maior relação
sinal-ruído e aumenta a resposta da frequência.
Isso faz com que a guitarra tenha uma enorme quantidade
de ganho e sustentação.
Sabendo que John McLaughlin costumava usar o encordoamento
mais leve que pudesse encontrar, Bogue preparou
a guitarra com jogos Darco Custom que iam de 0.08
a 0.38.
Um problema que Rex Bogue teve que resolver foi
que, para ele poder manter seu conceito de 'espelho',
as duas mãos teriam que ter o mesmo tamanho.
Assim o luthier resolveu a questão invertendo
6 das 12 tarraxas Klusons Custom Gold-Plated,
dando um aspecto semelhante as Rickenbacker 360/12.
Para o braço de seis cordas, Bogue utilizou
tarraxas Grover Imperial.
Tanto esmero e capricho fez a guitarra pesar mais
de 30 libras e custar (na época) mais de
U$ 5.000,00. Como Bogue afirmou : não há
nada no mundo como esta guitarra. Não há
uma só peça de plástico,
nenhuma mínima adaptação
ou imitação. Cada peça foi
exclusivamente construída para esta guitarra.
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Doloroso
Fim
Não
gostaria de terminar a matéria assim, mas a
verdade é que após três anos de
uso a Double Rainbow sofreu um terrível e enigmático
acidente. Caindo de uma bancada, sem ninguém
por perto, esta magnífica obra de arte encontrou
o chão 'de frente' e partiu o corpo em dois.
John até hoje planeja a reconstrução
do instrumento, o que agora fica mais difícil
pois já não contamos com a presença
de Rex Bogue, que nos deixou em 1996.
Ouçam
John McLaughlin e a bela Double Rainbow regendo
a Mahavishnu Orchestra em "Cosmic Strut",
"Faith" e "On The Way Home To
Earth" do álbum de 1974 'Visions
of the Emerald Beyond'.
Have
fun!
Alexandre H. Calamari
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