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Les Paul

Les

A guitarra, todo mundo conhece. Mas poucos conhecem o homem.
Responsável por, no mínimo, 70% de tudo o que há num estúdio de gravação atualmente, ele é ainda, ao lado de Leo Fender, o responsável pela guitarra elétrica maciça.
Seus protótipos, modelos e idéias criaram o que hoje chamamos de guitarra e jamais foram superados ou tornaram-se obsoletos.
Uma vida de paixão, dedicação, coragem, garra, talento e um toque de genialidade.
E como se não bastasse, como músico este pequeno homem fez a América 'swingar' nos anos 40 e 50 e serve até hoje como primeira referência para músicos como David Gilmour, Jeff Beck, Santana, John McLaughlin, Page, Vai, Clapton, Pizzarelli, Gambale, etc, etc, etc.

Les em seu estúdio em 1949

Senhores! Com vocês -- Lester Polfus -- ou melhor, Les Paul.

Nascido Lester William Polfus a 9 de junho de 1915, o garoto de Wiscousin abreviou seu nome para Les Paul e começou a se fazer notar acompanhando nomes como Bing Crosby e The Andrews Sisters.
Mais tarde, Les mudaria a cara da música americana da segunda metade dos anos 40 fazendo dupla com sua esposa Mary Ford.
A dupla Les Paul & Mary Ford proveu a trilha sonora do '40's american way of life', se assim posso dizer, deixando hits imortais como 'Mocking Bird Hill', 'Mr. Sandman' e 'How High the Moon'.

Mas Les Paul não conseguia se limitar a compor e tocar. Era um experimentalista nato.
Les vinha fazendo experimentos com a guitarra elétrica desde que a mesma surgiu. Suas pesquisas o levaram a crer que uma peça sólida de madeira poderia prover o sustain que ele desejava e ainda resolveria o problema de ressonancia com o qual os guitarristas tinham que conviver.

1952 Goldtop

Diz a lenda que Les apresentou seu projeto de uma guitarra maciça a Gibson, ainda nos anos 40. A Gibson, uma empresa já muito bem conceituada, deu as costas. A empresa não simpatizava muito com a idéia de associar seu nome a algum artista, em 50 anos apenas dois instrumentistas tinham assinado modelos para a marca, e por outro lado, a Gibson estava bastante confortável com sua linha de guitarras archtops, que estavam na moda e vendiam bem.

1954 Goldtop


Foi necessário o passo a frente de Leo Fender no lançamento comercial de uma guitarra maciça para que, nos anos 50, a Gibson considerasse viável a fabricação de um modelo próprio.
A associação com Les Paul foi óbvia, mas a empresa exigiu que a guitarra fosse lançada levando apenas o nome Les Paul. No caso de um fiasco, o nome Gibson não seria afetado.
Artista e empresa chegaram a um acordo sobre o modelo, que ainda que maciço, teria de trazer um tampo abaulado, acompanhando o design da empresa.
Sucesso absoluto. O nome Gibson foi incorporado e variações estéticas e eletrônicas dos modelos Les Paul e vêm de 1952 até hoje sem grandes alterações. Foi, o é e sempre será um dos instrumentos mais cobiçados por músicos de todos os estilos em toda parte do mundo.

1957 Goldtop

Vale lembrar que a Les Paul do Les Paul é um tanto diferente da Les Paul da Gibson. A guitarra do mestre está perto de um Frankenstein. Uma maravilha eletrônica montada num corpo modelo Les Paul. Alí há tudo o que se pode imaginar sobre faseamento, captação single-double, controles de tonalidade e mais, muito mais. São 300 guitarras em uma.

1959 Les Paul Standard

Contudo, para Les Paul, uma guitarra era apenas uma, entre as ferramentas que ele necessitava para fazer música. Sua criatividade e curiosidade não parou por aí.

 

 

Começou a experimentar com gravadores. Imaginem o sistema de gravação nos anos 40.
Logo Les percebeu que tudo aquilo era muito pouco e enfiou na cabeça uma idéia de sound-on-sound e fuçando aqui e alí chegou a sobrepor sua guitarra umas seis vezes, somado a umas três ou quatro sobreposições da voz de Mary Ford.
Fotos da garagem de Les & Mary mostram que para tanto eles precisavam de uma parafernália realmente fantástica, o que hoje chamamos de 'trambolho'. Seja como for, hoje chamamos de 'multi-track recording'.

Les Paul SG Standard


Delays, reverbs, phasers e outros brinquedos semelhantes também saíram destas sessões de experimentação na garagem dos Polfus.
Assim, na próxima vez que você fizer uma jam com você mesmo, seja num grande estúdio ou em sua casa com um porta-estúdio digital, lembre-se de Les.
Sem ele, talvez ainda estivéssemos gravando ao vivo, mono.

Uma mesa state of the art

Em 1948 Les Paul sofreu um acidente de carro 'quase' fatal. Gravemente ferido, Les foi avisado de que perderia seu braço direito. Se negando a ter o braço amputado, ele cuidadosamente instruiu os cirurgiões a colocarem seu braço num angulo em que lhe permitisse dedilhar a guitarra. Os médicos, mesmo discrentes sobre a recuperação do braço e certos de que o paciente jamais voltaria a tocar o instrumento, atenderam ao pedido.

 

Les Onstage

Se você quiser saber como está o braço de Les, vá qualquer segunda a noite ao Iridium Jazz Club em Manhattan / Nova Iorque, onde aos 87 anos de idade este homem toca por duas horas com breves intervalos entre as músicas, para descansar suas sábias mãos castigadas pela artrite.


´...quando eu morrer, vão ter que me carregar para fora do palco. Vou morrer 'swingando'. (risos).
Les Paul

 

 

 

Chester & Lester

É impressionante como um guitarrista tão fantástico pode ser tão pouco citado atualmente.
Se você gosta de guitarra, você tem que ouvir Les Paul.

Les Paul & Mary Ford

Tente encontrar, em boas lojas, qualquer coisa da dupla Les Paul & Mary Ford.
Uma boa dica, mais fácil de encontrar, é o cd Chester & Lester . Um álbum incrível, que traz Les Paul derramando seu virtuosismo sobre o timbre deliciosamente melado do não menos gigantesco virtuosismo de Chet Atkins. Antológico.

Have fun !!

Alexandre H Calamari

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