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BRIAN MAY

Quando o assunto é guitarras únicas nas mãos de guitarristas "fora de série", o nome de Brian May vêm como que por osmose.
Este músico incrível,ao lado do não menos incrível Freddy Mercury, fundou uma das mais influentes bandas de todos os tempos. Seu toque e seu som servem de referência para todo guitarrista até hoje.


O Queen mostrou ao mundo uma música que até então não parecia possível. Dos Vox de Brian jorravam orquestrações completas, timbradas de forma tão única que nunca ninguém foi capaz de copiar fielmente.

 

 

Ainda que unidades de delay, phasers, Vox modificados e algumas dezenas de pedais de distorção possam nos aproximar do som do Queen, há uma peça chave, um segredo, uma mágica, a qual nunca teremos acesso. Uma simples guitarra, feita em casa.
Com vocês . . .. A Red Special.

 

A Dama de Vermelho


Original 1

Um dos mais reconhecíveis ícones do rock setentista é a imagem de Brian May empunhando sua guitarra vermelha, mais tarde apelidada de 'Red Special'.
Muito se especulou sobre o instrumento, muita lenda se criou.
Mas toda a simples realidade acabou vindo à tona em 1998, por ocasião da restauração da velha dama.
Brian vinha esperando pela hora certa - "Foi uma decisão difícil. Mas a guitarra estava se desmantelando. É claro que, por se tratar de um instrumento vintage, eu sabia que muitos iriam torcer o nariz com a reforma. Mas a verdade é que esta guitarra vem sendo meu instrumento principal há 30 anos, e eu quero que continue sendo.


Original 2

Decidi pela restauração geral. Escala, frisos, trastes, parte elétrica, tudo.
Antes de ser uma relíquia, é a minha guitarra e tem que estar funcionando perfeitamente".

Ainda que a guitarra já ouvesse sofrido algumas modificações, basicamente tarrachas e trastes, Brian sabia que seu instrumento havia alcançado um ponto crítico. Décadas de uso contínuo e constantes alterações radicais de temperatura haviam comprometido seriamente a estrutura do instrumento. Assim a grande questão era: a quem Brian confiaria sua guitarra ?

Greg Fryer

Enquanto Brian vivia seu dilema, ele abriu sua caixa de correio e encontrou uma carta de um tal australiano chamado Greg Fryer. Nela o ardoroso fã dizia que o ápice de sua carreira de luthier seria construir uma réplica fiel da velha dama. Aliás, a réplica.


Fryer Models

Brian decidiu apostar e recebeu Greg em sua casa. Ambos discutiram o assunto e Brian permitiu que Greg examinasse minuciosamente sua guitarra.

A conversa deve ter sido boa, porque no dia seguinte Greg embarcou para a Austrália com a Red Special na bagagem. Voltou dezoito meses depois com três cópias 'soberbas' e mais a original devidamente restaurada.
Os modelos realmente impressionaram Brian, que já havia autorizado outras cópias da Red, entre outras, as da Guild.

Como o próprio Brian contou a Guitarrist em julho de 1998 - "a Guild fez um grande trabalho. Mas com a intenção de produzir a guitarra em série, eles não puderam se apegar em muitos detalhes. As guitarras de Fryer são perfeitas em cada detalhe. Ele estudou cada parte da original, fez testes, fez questão de usar os mesmos materiais que eu usei quando construi a guitarra com meu pai."

E de certa forma, é ai que mora o segredo.


A Red Special

Por volta de 1963, o papai May, engenheiro eletrônico, resolveu ajudar o filho Brian a possuir uma guitarra elétrica.
O garoto não se decidia. Não sabia o que mais lhe agradava. Uma Fender Strato ou uma Gibson Les Paul? Na verdade, Brian queria algo diferente. Não sentia muita atração pelos modelos disponíveis e juntava a isso o fato de não ter dinheiro nem para as cordas destas guitarras.
Assim nasceu a idéia de construir um instrumento e já que os May iriam arriscar numa guitarra caseira, pra que copiar ? - '... vamos criar uma nova guitarra.'
Foi assim que dois pedaços de madeira que envelheceram como uma mesa de cozinha e uma moldura de lareira se transformaram num instrumento absolutamente original, magnífico e até hoje adorado e constantemente copiado por aficcionados em todo o mundo.

A Red Special têm um design único, projetado pelo próprio Brian aos 15 anos de idade.
O braço em mogno, vai até o meio do corpo da guitarra e nele são fixados dois dos 3 captadores do instrumento. A escala, que parece ébano, é na verdade carvalho pintado de preto com um verniz inglês chamado Rustin's Plastic Coating. As marcações, ou dots na escala, foram feitos com uma antiga caixinha de costura da Senhora May, que também cedeu uma grossa agulha de tricô que se revelou uma excelente alavanca de trêmolo.
A escala recebeu 25 trastes, 24 mais o traste zero.
A parte central do corpo veio da velha mesa de carvalho acima citada (da lareira saiu o braço). O resto, incluindo as curvas, foi recortado de 2 camadas de madeira mais fina, formando um ambiente oco, com câmaras acústicas. Finalmente o corpo todo foi coberto com um verniz vermelho-tijolo, provavelmente da Rustin's novamente.E finalizando, acreditem, um friso branco de prateleira vedou o corpo da guitarra.

Os May, gênios ingenuos, não pararam por aí. Na hora de pensar no trêmolo, Brian disse que esperava por um mecanismo que lhe desse um longo alcance. No mínimo um tom e, detalhe, exigiu que as cordas voltassem exatamente a afinação após o uso do trêmolo. Piada.
De qualquer forma, eles passaram a estudar vários projetos para um mecanismo que, no mínimo, corrigisse os erros que eles consideravam existir nos modelos da época.

Burns 2


Depois de alguns protótipos eles optaram por um que usava seis pontes individuais de alumínio parafusadas diretamente no corpo, cada uma recebendo um saddle de aço com rolamento, o que oferecia baixa fricção. A entonação era conseguida com pequenas fendas no topo de cada ponte. Se a entonação variasse em uma única corda, eles podiam deslocar o rolamento para frente ou para trás até se encontrar a fenda apropriada.


Burns 1


Logo atrás, a agulha de tricô sacudia-se contra um lâmina de faca escondida sob o tampo do instrumento. O design usava duas molas de motocicleta suspensas por parafusos. Quando a alavanca era pressionada a chapa do trêmolo comprimia as molas, o que resultava num excelente controle. Estando as cordas quase retas desde a ponte até as tarachas e com pouco atrito, o sistema mantinha afinação muito bem, para um mecanismo sem travas.
Para a época, revolucionário.

E é claro que se até aqui tudo era novidade, não era na parte elétrica que o Sr. May iria deixar por menos.
Após uma tentativa frustrada de montar seu próprio captador, Brian fez uns bicos na loja da Burns e finalmente se tornou um orgulhoso proprietário de um set de pickups Burns Tri-Sonic com coberturas metálicas.
Primeiro as bobinas foram vedadas com Araldite para ajudar na redução da microfonia. Em seguida os captadores foram presos diretamente ao corpo, e depois de alguns testes a dupla decidiu que a configuração seria a seguinte: cada captador passava por dois pequenos seletores de duas posições, a primeira fila, perto dos captadores, sendo on e off para cada um e a segunda fila sendo a reversão de fase de cada um.
Estes seletores e os potenciômetros de volume e tonalidade foram todos montados numa chapa de alumínio escondida debaixo da placa preta de Perspex, que lhes serviu de escudo.

A fiação permite um número de diferentes configurações e tons. Com dois ou mais captadores juntos o som era combinado em série, não paralelo como nas stratos por exemplo, isso aumentava a saída e dava a guitarra seu famoso som gordo de humbucking quando combinado com um treble booster num Vox AC30 .
Revertendo a fase de um captador ou mais, o instrumento oferecia um som limpo mais rico em harmônicos.
Para Brian sua guitarra fica entre a Strato e a Les Paul. Adicionando as peculiaridades do sistema de trêmulo e o forte ganho de saída, ela só é comparada às guitarras 'heavy metal' dos anos 80.
Nada mal para dois curiosos tentando construir uma guitarra pela primeira vez, enfiados num quartinho inglês no meio dos anos 60.

E o resto é história. Alguns anos mais tarde este Pinocchio elétrico certamente mudou os caminhos da música e da guitarra em sí, e apesar das réplicas, cópias e imitações esta guitarra continua única e insubstituível.


Redmania


Guild

A fascinação por este ícone já tomou proporções absurdas.
Navegando pela web você pode encontrar sites especializados na construção de réplicas da Red Special. Aliás tem Red Special de tudo quanto é cor.
Há encontros de colecionadores, foruns, um verdadeiro culto em torno da guitarra dos May.
Oficialmente, você pode encontrar as Guild, já fora de linha. E a mais recente versão da própria Burns, lógicamente apoiada no fato de ter fornecido os captadores para a original.
Nenhuma chega perto dos modelos de Greg Fryer, que pelo que se sabe, construiu os modelos exclusivamente para Brian que as usa como suporte para sua Old Lady.

Now I'm Here

Se você já ouviu alguma música do Queen, então você já conhece o som da Red Special. Mas só pra não perder o costume, eu recomendo: 'Death On Two Legs' do ábum 'A Night At The Opera' de '74 , 'Brighton Rock' do 'Sheer Heart Attack' de '75 e 'It's Late' do 'News Of The World' de '77.

Have fun !!


Alexandre Calamar
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